Meu nome é Marcia Maluf e sou a primeira mulher a ter se submetido a um transplante cardíaco no Brasil, isso em 1996.
Poucas pessoas podem dimensionar o que significa aos 42 anos receber a "sentença" de que se não for encontrado um coração compatível rapidamente, não terá mais do que 3 meses de vida.
Pois é. A partir daí, tem-se duas opções: sentar, chorar e se lamentar, se fazendo de vítima ou tomar as rédeas da própria vida nas mãos e ir à luta. Como se pode perceber, foi isso que eu fiz.
Hoje, 16 anos depois, estou aqui, lutando com algumas dificuldades do transplante, mas viva como nunca, feliz como sempre e continuando a enfrentar a vida e seus problemas. Porque, na minha concepção, só tem problemas quem está vivo.
É esse o significado de um transplante, seja ele de que órgão for; é esse o resultado final do ato da doação de órgãos: não só o gesto simbólico de amor ao próximo, de humanidade, mas REALMENTE salvar vidas. Eu gostaria que todos soubessem o que isso representa para alguém que passou pelo que passei.
Gostaria que todos os parentes que autorizaram a doação pudessem saber o que fizeram à algumas vidas humanas Se mais pessoas soubessem disso, garanto que não padeceríamos de tanta carência de órgãos.
Hoje levo a vida assim: agradecendo a Deus por acordar num dia de sol, pelos dias de chuva, pelas coisas que consigo e pelas que não consigo mas estou aqui para lutar por elas e rezando a Deus a cada dia por seres humanos tão grandiosos que, diante de uma tragédia tão grande como a perda de um ente querido, respiraram fundo e priorizaram a vida de outros seres humanos.
As fotos me mostram em 1996, a espera do coração, e hoje. Parece que a foto à direita sou eu 16 anos depois? O segredo está em amar a vida, SE AMAR e "peneirar" os problemas. Eu acho que problema não tem tamanho, é você quem dimensiona tudo o que acontece em sua vida: um problema minúsculo pode adquirir proporções gigantescas, e, da mesma forma, se você quiser, um problema gigantesco fica do tamanho de um grão de areia que você varre pra fora.
Só gostaria de não ter precisado sofrer tanto pra chegar a essa iluminação, que me ensinou que o grande segredo da vida é AMAR A VIDA.
Mais uma coisa: na foto esperando o coração eu pesava 35 kg e tinha um sorriso otimista que nunca saiu do meu rosto.