Tenho 54 anos; aos 37, já quase sem esperança de ser mãe, engravidei. No dia 9 de julho de 1987 nasceu Vitoria Carolina, a Vivica. Uma menininha linda, de cachinhos dourados, pele branquinha como a neve, assim como num conto de fadas. Três anos depois eu fiquei viúva, e seguimos, só nós duas, pela vida. Minha filha viveu apenas 18 anos, mas foram anos de imensa felicidade.
No dia 16 de dezembro de 2005 ela saiu de casa para fazer o último exame na Faculdade; logo depois, foi internada com aneurisma cerebral. No dia 17 uma voz me tirou do imenso abismo que se formou dentro de mim: meu sobrinho me perguntava se eu gostaria que minha filha doasse seus órgãos. Um choque percorreu meu corpo porque eu me lembrei que esse era um grande desejo dela, que passou pela vida sorrindo e fazendo o bem. Ironicamente, ela era perfeita. Dela foram retirados coração, rins, fígado, pulmões, veias, córneas, tudo. Sei que ela salvou muitas vidas. Não penso nela vivendo em outras pessoas, ela era muito mais que fígado ou coração. Sei que ela continua viva e perfeita, e penso na alegria de tantas pessoas quando receberam a notícia de que seriam salvos. No dia 18 eu enterrava todos os meus sonhos como mãe, mas desenterrava em mim a alegria de ser um ser humano. Deus abençoe todas essas pessoas que sobreviveram.
Deus abençoe minha filhinha.